O porteiro amigo
Saí do carro com a chuva de verão caindo não me importando com os pingos gélidos que percorriam minhas costas nuas por aquele macacão preto. Torcendo pra não ser meu amigo porteiro, porque embora seja amigo, não deixaria de ser também embaraçoso. Olhei para a portaria que conheço de cor e salteado, agora reformada, com porcelanato ao invés de madeira e móveis modernos ao invés de peças antigas. Era ele. Cabelos ralos e brancos, a camisa azul de sempre. Sorriu, também um pouco embaraçado, e puxou uma conversa qualquer. Disse, como quem joga verde para vasculhar o terreno: Veio passear um pouco? Respondi, como quem quer soar casual para não pesar o momento: Vim aproveitar o feriado. Mas ele sabia. viu nos meus olhos castanhos como castanhas a excitação de uma jovem apaixonada que não quer só passear um pouco no 104, mas que quer tornar essa e outras conversas muito mais frequentes. Subi o elevador, portas agora renovadas, torcendo pro seu turno acabar antes de eu partir. Porque embora se